Lisbon Addictions 2017 (re)afirma-se como o maior encontro europeu em matéria de Comportamentos Aditivos - e Dependências - Outubro 2017 - Revista ...
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Outubro 2017 Revista Mensal • 2 Euros Parceiro do Plano Nacional de Saúde 2014 Lisbon Addictions 2017 (re)afirma-se como o maior encontro europeu em matéria de Comportamentos Aditivos e Dependências
HARM REDUCTION OVERDOSE AND INFECTIOUS DISEASES Divisão para a Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências (DICAD) da ARS Norte, IP PONTE, ISABEL; COUTINHO, CÁTIA ABSTRACT Several international organizations highlight regularly in their reports the importance of the commitment of national governments to reduce both damage and death associated with psychoactive drug consumption. These same reports similarly highlight the need to further characterize drug users, in particular regarding risk factors/determinants associated to acute overdose events related to use of “opiates” and to infectious diseases such as HIV, HCV, etc. However, Portuguese public policies on drug use have been (historically) giving low priority to the need to understand/characterize the injection process and overdose victims; to the implementation of overdose prevention programs; and the implementation of consumption rooms . In fact, these HARM REDUCTION programs have been relegated to second plan when compared to other concerns such as the prevalence of HIV and Hepatitis C infection among drug users. There is, thus, a gap of knowledge and action to address the challenges of overdose events among drug user populations. Similarly, there is a knowledge and intervention Gap of the challenge regarding the risk determinants for infections due to sharing injection material, for infectious diseases . In the current work, we aim to contribute to the characterization of the population of users intervened by the Street teams of the North Region of Portugal regarding risk factors associated with overdose events across the users lifespan; infectious diseases; and sharing injection material. To achieve this objective, we performed an exploratory study based on the record files (“characterization sheets”) of 610 drug users and analyzed: 1) Socio-demographic variables including birthplace, nationality, home address (“District”), gender, age, marital status, financial support, professional situation; 2) Drug use records, such as overdose and Infections disease . METODOLOGY The sample consisted of 610 people who are drug users of the Harm Reduction projects in the North Region of Portugal. We used descriptive analysis to study sociodemographic variables, consumption history, current consumption and judicial data in each of the groups: overdose and infectious diseases . RESULTS Overdose VIH HepB HepC TB (24%) (11%) (5%) (28%) (3%) Gender 83% 83% 90% 86% 81% Income poverty 87% 96% 93% 83% 95% Route of administration 83% Unknown Unknown 54% Unknown Intravenous and smoked Smoked Sharing Material 81% 88% 82% 72% 65% Average of consumption >15 years 75% 10% 92% 75% 67% Poli-consumptions 53% 77% 63% 66% 44% Judicial Problems 29% 29% 11% 22% 28% HIV 33% 32% 29% 67% CONCLUSIONS Our results show that overdose victims are largely male with an average 38 years old and social and economic vulnerability. In addition, these individuals have an average of consumption of intravenous heroin > 15 years and various infectious diseases. In this study, we observed a correlation between "Route of administration of drugs" and overdoses regarding use of heroin, namely highlighting a high vulnerability of individuals who use intravenous substances. We also observed that the risk determinants for the spread of infectious diseases among consumers who sharing injection material are mutually reinforcing. In addition we observed a likely correlation of dependency between the factors "overdose event", “Overdose” and “infection diseases”. We conclude that the risk factors are present among the whole population studied. However, they are more evident in individuals that have reported previous overdose episodes and are enhanced by the fact that these episodes are themselves a risk factor to a fatal overdose event. Take Home Message Even though Portugal has a legislative framework for harm reduction since 2001 (Dec.-Lei 183/2001) in which measures like low-threshold methadone programs, Syringe exchange, outreach teams, drop-ins, drug consumption rooms are planned, these are not working. Since 2001, the official establishment of such type of services took place and increased throughout the country in different set-ups. However, Drug Consumptions Rooms and peer distribution of naloxone for overdose prevention are still absent, even though they are planned in the legal framework and despite relative political consensuses on the risk factors associated to the overdoses and infectious diseases. We recommend an indebth scientific and public discussion on the advantages of the creation of those services, in order to contribute to the implementation of protective factors and skill competences to prevent overdoses and infections diseases.
Editorial 3 Com a presença de vários peritos internacionais na área dos comportamentos aditivos e das dependências, Lisboa foi o palco onde os mais conceituados profissionais debateram os últimos desenvolvimentos da investiga- ção e do conhecimento científico, abordando novos desafios e áreas em desenvolvimento nos campos das drogas ilícitas, do álcool, do tabaco, do jogo, e da internet. O momento alto teve a presença de Alexandre Quintanilha, cientista e Presidente da Comissão Parlamentar de Educação e Ciência da Assembleia da República e um dos responsáveis pela Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga, internacionalmente reconhecida, admirada e sucessivamente aplaudida por todos os presentes. Durante três dias, discutiram-se em Lisboa temas muito diversificados como da ciência para a política e da po- lítica para a ciência, avaliação das dependências como uma questão de escala, os limites da adição e os futuros desafios nas dependências. Impressionante a orgânica e a dinâmica do mais importante encontro entre saberes, com mais de 1200 partici- pantes, mais de 500 apresentações, a exibição de mais de 200 posters e 20 palestras proferidas por investigado- res e profissionais internacionalmente reconhecidos, durante todas as ininterruptas horas do dia… Se dúvidas houvesse da importância e do trabalho português nesta importante área dos comportamentos adi- tivos, as mesmas dissiparam-se com a qualidade e a evidência demonstrada por um punhado de profissionais que, apesar de tudo, fazem jus a uma estratégia pensada, desenvolvida e trabalhada por um consistente corpo técnico e profissional que assentava a sua intervenção na centralidade do cidadão, nas respostas integradas, no diagnóstico dos territórios… uma intervenção de qualidade e avaliada externamente, que articulava com o meio envolvente porque era preciso fazer compreender que o problema das dependências é sério demais para ser tra- tado com a ligeireza características de alguns “velhos do restelo”. Hoje, neste encontro de saberes, percebi a importância e o significado da “Revolução em CAD” e quero deixar aqui uma palavra a todos os homens e mulheres que construíram o “Modelo Português” e que, apesar de todas as vicissitudes e “rasteiras” cobardes, continuam a resistir e a manter de pé as respostas a que as pessoas e as suas famílias têm direito. Portugal tem hoje mais um motivo para se orgulhar destes excelentes profissionais, como o puderam testemu- nhar as largas centenas de profissionais vindos de 70 países, de todos os cantos do mundo, para “beber” a expe- riência que o Modelo Português, através da sua rede de referenciação e das respostas integradas, está a desen- cadear, contribuindo para uma onda de esperança a todas as famílias e cidadãos do mundo. Parabéns à organização e a todos aqueles que ainda fazem por acreditar que um futuro melhor é possível!… Sérgio Oliveira, director FICHA TÉCNICA Propriedade, Redacção,Direcção e morada do Editor: News-Coop - Informação e Comunicação, CRL; Rua António Ramalho, 600E; 4460-240 Senhora da Hora Matosinhos; Publicação periódica mensal registada no ICS com o nº 124 854. Tiragem: 12000 exemplares. Contactos: 220 966 727 / 916 899 539; sergio.oliveira@newscoop.pt; www.dependencias.pt Director: Sérgio Oliveira Editor: António Sérgio Administrativo: António Alexandre Colaboração: Mireia Pascual Produção Gráfica: Ana Oliveira Impressão: Multitema, Rua Cerco do Porto, 4300-119, tel. 225192600 Estatuto Editorial pode ser consultado na página www.dependencias.pt
4 Manuel Cardoso, SICAD – Deputy General - Director: “Foi também um evento que apelou à adoção de escolhas responsáveis! Ou pelo menos acertadas!” tamos a falar de multidisciplinaridade – não estamos a falar exclu- sivamente para médicos ou para psicólogos mas para todos aqueles que podem, de algum modo, intervir – saberes de várias disciplinas e porque conseguimos fazer a integração também dos vários tipos de intervenção, muito daquilo que, na nossa política, conseguimos pôr em prática, então diria que este foi, é, um gran- de evento. Refiro-me a uma política e a uma intervenção integra- da no que concerne aos eixos de missão, por um lado, e por outro lado, a trabalhar de maneira a concorrerem para o mesmo objeti- vo. Como exemplo, diria que temos uma fácil ligação entre a pre- venção, nomeadamente a prevenção indicada e o tratamento, ponte que deve ser feita, tal como a que resulta da integração da intervenção entre o tratamento e a reinserção social. E, ao passo Parece legítimo afirmar que a Lisbon Addictions, ao final que em vários outros Estados, temos entidades estanques, em da segunda edição, já conquistou o epíteto de maior confe- que cada uma desenvolve intervenções num eixo sem haver uma rência mundial na área dos comportamentos aditivos e das integração com as outras, em Portugal, todos estes eixos, incluin- dependências… do ainda a redução de riscos e a minimização de danos, entram Manuel Cardoso (MC) – Não fiz nenhum estudo sobre isso… nessa perspetiva da intervenção integrada. Na Lisbon Addictions Aliás, essa questão do maior ou mais pequeno será sempre rela- pomos os saberes a falar uns para e com os outros. tiva… Se fizer uma conferência sobre dependências, generica- mente, nos EUA, no Brasil ou na China e der condições às pes- Confesso que gostaria de me focar apenas na Lisbon Ad- soas para participarem, provavelmente, terá mais gente. Agora, a dictions mas… ainda será mesmo assim em Portugal? Lisbon Addictions não deixa de ser um grande evento, na medida MC – Acho que, apesar de tudo, ainda é assim. Podemos, em que teve um crescimento que duplicou, em termos de partici- eventualmente, estar a funcionar menos bem mas, felizmente, a pantes, na segunda edição. Em termos de países, na primeira grande força do que foi um grande trabalho de equipa e quase de edição tivemos 58 e nesta tivemos 71, cobrindo todos os países família, ainda se consegue manter… ainda que esteja a desgas- da União Europeia, todas as regiões da OMS do mundo, que são tar-se com alguma rapidez, penso que tinha a suficiente consis- sete, e todos os continentes. Portanto, nessa perspetiva, creio tência para se manter hoje. Por outro lado, quando aqui nos con- que foi um grande crescimento e por isso um grande evento. Mas, centramos em comportamentos aditivos e dependências, o foco é porque estamos a falar de uma conferência que congrega todo o claramente na pessoa, no cidadão, e essa é outra característica tipo de dependências ou de comportamentos aditivos, porque es- que a nossa política tem há bastantes anos, a centralidade no ci-
5 dadão e não no objeto da dependência ou do comportamento aditivo. Portanto, o que te- mos conseguido e, de certo modo, a conferência também veio dar ao mundo, foi esta ideia da centralidade no cidadão, dos comportamentos aditivos e dependências, para além da toxicodependência, do alcoolismo ou do que se queira quando pensamos em cada uma das substâncias e da multidisciplinaridade. Creio que tudo isso torna a Lisbon Addictions uma grande conferência. Em última análise, a finalidade deste tipo de realizações visará o bem-estar e a melhoria da saúde das pessoas… Em que medida esteve esse desígnio plasmado quando se concebeu o programa científico? MC – Quando definimos as áreas para o programa, estamos sempre a pensar nisso. Esta conferência é organizada por quatro entidades: uma, fundamentalmente vocacionada para a pesquisa, monitorização e acompanhamento das políticas e do que se passa em cada um dos países e na Europa como um todo, tendo uma atenção especial ao que se passa no mundo (o Observatório tem essa função e, claramente, desempenha magistralmente esse papel) ou- tra, é uma entidade de políticas públicas, “policy makers” mas também de implementação, o SICAD. Se calhar, sendo um pouco presunçoso, o facto de ter alguém à frente que é da saúde pública faz com que a orientação tenha sempre algo a ver com o que me pergunta… Em suma, duas entidades que congregam estas perspetivas da ciência para a política e o contrá- rio traduzem o que conseguimos fazer na própria organização. E, depois, temos outras duas entidades, a ISAJE e a Addiction, que representam a disseminação do conhecimento. Nesse aspeto, temos na própria organização um conjunto de entidades que, tendo cada uma o seu know-how específico, acabam por se complementar e, quando vamos organizando o progra- ma, tudo isso está presente. Mas vou dar-lhe um exemplo do que aconteceu nesta edição: em determinada altura do desenho do programa, mesmo antes de sabermos quantos seriam os abstracts submetidos, os seus conteúdos e a avaliação do Comité Científico, tínhamos pensa- do num formato que contemplava uma dúzia de sessões temáticas para as quais pensámos convidar pessoas. Mas não o fizemos porque, quando fomos avaliar os abstracts, consegui- mos ter nas submissões dos investigadores todas as respostas para o que pretendíamos, o que é fantástico. Aliás, esta conferência cresce baseada nos abstracts submetidos, nas pes- soas que querem apresentar o seu trabalho de investigação mas, porque é importante fazer mover, não só o conhecimento, mas também trabalhar para o desenvolvimento político em saúde pública, pensámos em introduzir essas sessões temáticas, da mesma forma que fize- mos acontecer o Twist, formação para jovens investigadores, para aprenderem com os mais velhos e virem beber conhecimento de todas as áreas. Vimos aqui várias experiências, vários desenhos políticos, várias investigações de base… a diversidade acaba por ser tão grande que resulta numa absoluta mais-valia e a grande queixa que espero ouvir desta conferência é que eram demasiadas sessões, de demasiada qualidade e as pessoas não conseguiam ir a todas… E essas queixas poderão resultar dos portugueses que não conseguiram parti- cipar com abstracts? MC – mesmo em relação aos nacionais, devo dizer que o SICAD e, se quiser, o Go- verno português, têm trabalhado fortemente, há vários anos, no sentido de fortalecer e enriquecer a investigação nacional nesta área. Nós participamos no ERANID, financia- mos investigação por essa via e, pelo menos há 12 anos, tentamos que os investigadores nacionais se encontrem, tenham uma voz, possam juntar-se e apresentar propostas con- juntas. E, já em 2015, quando pensámos na organização da conferência, tentámos fazer precisamente isso. Os preços da inscrição não podem ser diferentes e, mesmo assim, ainda andámos a fazer contas mas a ideia é que, para os investigadores nacionais que te- nham abstracts aprovados e venham fazer a sua apresentação, a inscrição é gratuita, para eles e paga pelo SICAD. E a verdade é que, neste momento, está a suportar mais de 200 das 1300 inscrições… Portanto, há mais de 200 portugueses aqui, o que qualifico como uma participação fantástica. Mas não será verdade que, atualmente, em eventos como este, a presença constan- te de organizações de cúpula que aglutinam investigadores de diversos países consti- tui um reflexo de um monopólio que capta os financiamentos disponíveis no seio da União Europeia, dificultando o acesso aos mesmos por parte de entidades menos re- presentadas ou até de investigadores que ajam de forma mais isolada?
6 MC – Neste evento não, absolutamente! As entidades internacionais que estão con- nosco podem ajudar, mas alguns dos projetos têm financiamento e os próprios financia- ram a sua presença aqui. Entidades, como o COPOLAD, o RAHRA ou o ERANID fizeram- -no. Outras, como a OMS, a Comissão Europeia, o Grupo Pompidou ou a UNODC, são, como outros partners, entidades de credibilidade científica a quem pedimos para, partici- pando, credibilizarem o próprio evento. Portanto, ter aqui o logo da OMS não é pelos nos- sos “lindos olhos” ou pela melhor relação que algum dos organizadores poderá ter, mas porque a entidade reconhece qualidade e merecimento ao evento e à organização. Não estão aqui propriamente para terem voz mas antes porque reconhecem credibilidade ao evento. Em relação à segunda parte da questão, naturalmente, em termos da Comissão Europeia, algumas das entidades aqui presentes têm financiamento… A própria Comis- são é financiada pelos Estados… Nesse aspeto, apetece-me ser eu próprio polémico: o ERANID, que serve para que as entidades nacionais participem, não teve assim tanta adesão… E fizemos alguma pressão para que estivessem presentes, por se tratar de um projeto financiado pela Comissão, para que os Estados se organizassem e pudessem tra- balhar em conjunto… O que o RAHRA fez foi exatamente isso. O problema da Comissão, nos últimos anos, é que tem favorecido pequenos investigadores que apenas trabalharam para eles próprios, ainda que os resultados sejam públicos e uma mais valia para o co- nhecimento na área. E, relacionando com a sua anterior pergunta, se é para trabalhar com a saúde pública, no sentido de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, deve pri- vilegiar-se a intervenção que tenha resultados efetivos nos comportamentos e na saúde das pessoas. A investigação é indispensável, mesmo a pura, mas o que eu próprio venho discutindo ao nível da Comissão tem a ver com os critérios para financiamento de proje- tos… A título de exemplo: quando falamos de intervenções breves, a Comissão financiou pelo menos cinco projetos… Quantos estados-membros ou cidadãos beneficiam efetiva- mente de intervenções breves? Sabe-se muito sobre como é mas, na prática, o que se faz? É necessário que a Comissão ajude os estados-membros, através do financiamento dos projetos a irem mais além na implementação de políticas. E daria como feliz exemplo o RAHRA, de que me orgulho muito: quando conseguimos, em primeiro lugar, criar um questionário comum em termos europeus para que os dados possam ser comparáveis. Contribuímos para que cada policy maker, cada entidade ou o próprio estado-membro, que pode ou pretende implementar políticas, tenha uma referência, em termos de dados base, para poder usar. Considerando os dados base, poderá dizer que vai melhorar em determinado domínio. Outro exemplo encontramos no CNAPA, em que os estados-mem- bros reúnem para darem conta do que vão fazendo, estimulando-se a fazerem coisas no- vas e diferentes… Se atentarmos ao que se passa, o orçamento do comissário da inves- tigação é descomunal e não sei como será gasto, mas nada tem a ver com o outro dinhei- ro que os programas da saúde e da justiça vão financiando… E esse tem que ser balan- ceado, equilibrado entre a investigação mais pura, mais de base, eventualmente mais pequena, e a de equipas maiores, transnacionais, para que elas próprias criem um conhe- cimento maior, também transnacional, que vá para além do que se passa em cada um es- tados-membros. Na verdade este evento não tem grandes patrocinadores ou financiado- res. O SICAD é, de longe o maior financiador. Não me parece que esteja propriamente a “roubar” aos pequenos… No plano temático, o que destacaria neste evento? MC – Como afirmei, temos as várias áreas representadas… Mais do que temas espe- cíficos, diria que, no seu conjunto, todas as áreas acabam por ser extremamente impor- tantes. Tivemos um cuidado suplementar para dedicar alguma atenção não só às novas substâncias psicoativas e ao que vai acontecendo, em especial nos países da América do Norte, em termos de “políticas”, nomeadamente às legalizações, procurando que fosse exposto o novo conhecimento que já existe sobre a matéria ou as suas áreas lacunares. Depois, tentámos que as várias áreas, nomeadamente a internet e o jogo, que têm estado menos em discussão, tivessem um pouco mais de representatividade. Fazendo o paralelo com a área dos CAD, com 14 sessões a decorrerem muitas vezes em simultâneo, foi preciso fazer-se muitas escolhas responsáveis… MC – (risos) Sem dúvida! Foi também um evento que apelou à adoção de escolhas responsáveis! Ou pelo menos acertadas!
Cannabis Use and Perceptions of Availability and Risk Changes over time (1995-2015) in Europe among 16 y.o. teenagers Fernanda Feijão SICAD /CIS.Nova-FCSH/UNL 1. Introduction Introduction 2. Method 3. Results 1: The relation between Cannabis use and availability and risk of use All the general methodological details are published in the Changes 1995/2015 in 22 countries perceptions were analyzed in several studies with conclusions ESPAD Reports from 1995, 1999, 2003, 2007, 2011 and 2015. pointing to an association between higher perceptions of Measures – The 4 variables analyzed were measured as Changes from 1995 to 2015 in Cannabis Lifetime Prevalence and availability with higher levels of use and between higher follows: Perceptions of Availabily (Easy or Very Easy) and Risk (Great) of Trying perceptions of risk with lower levels of use, among teenagers. In the current analyze two types of data are used: or Regular Use , in the 22 countries that carried out ESPAD in Cannabis use, was measure in a 7 points scale (from 1=0 to 7=40 times or more); • Lifetime Prevalence correspond to the percentage of students that answer that they the six wages are reported bellow (Values for UK ,in 2015, were estimated based Here it is explored how, among 16 years old European students, used it once or more. on the previous years) . the interaction between theses variables developed over time • Perceived Availability, was measure in a 6 point scale (from 1=Impossible to get to 5=Very easy to get and 6= don’t know) (since 1995 to 2015) in the countries participating in ESPAD • Perceived Risk of use was measure in a 5 point scale (from 1=no risk easy to 4=Great (European School Survey on Alcohol and other Drugs). risk and 5= don’t know). Samples – To explore the answers to the questions two The questions to answer are: samples were used: 1. Concerning the relation between perceptions of availability • in a first moment an analyses based on the (aggregated) and cannabis use: data published in all ESPAD Reports, for all the 22 countries a) Over time, are they independent of levels of use (PLV) that carried out all the six wages of ESPAD; and the direction of changes in the levels of use (increase, • In a second moment another analyze based on the stability, decrease)? individual data from the 17 datasets sent to ESPAD network by the national PIs. 2. Concerning the relation between perceptions of risk of using To find the answers to the research questions: cannabis and cannabis use: • First a descriptive analyzes, over time, at country level (22 a) Over time, are they independent of the levels of use countries) are presented, and based on it empirical clusters (PLV) and the direction of changes in the levels of use of countries are built, joining in each clusters the countries (increase, stability, decrease)? with similar development patterns on cannabis use. • After that, a correlational analyze is developed using the database (individual data) and the clusters built in the first moment (only with 17 countries) countries. From 1995 to 2015, in the same countries, Perceptions of 4. Results 2: Developments over time in 17 countries (dataset) Availabilty and Risk of Regular Use changed as shown below: Cannabis Use Lifetime Prevalence (LFP) developements over Comparing the PLV from 1995 and 2015, and the slopes of time in the 17 countries (in the dataset) was as follows: the related trend lines, is possible to identify six paterns in the trends that include countries with: 1. PLV
8 Fernando Araújo, Portuguese Secretary of State Assistant and of Health, promete “mexidas” para breve na orgânica do SICAD e dos CRI: Secretário de Estado antevê rápido regresso… ao futuro Em entrevista a Dependências, Fernando Araújo, Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, faz depender a rapidez da decisão quanto à futura orgânica do SICAD e conse- quente enquadramento dos profissionais dos CRI da celeridade da apresentação de uma proposta por parte do grupo de trabalho que está a aprofundar o processo de alterações ao modelo organizacional do SICAD. Fernando Araújo garante mesmo que “se até ao final de novembro, pudermos ter uma proposta do grupo de trabalho”, irá “seguramente tentar, dentro do Governo, ter em dezembro uma solução e uma decisão para encarar já 2018 com uma nova visão para os profissionais e para os utentes”. Pelo meio, o Secretário de Estado deixa rasgados elogios aos profissionais desta área, compreendendo os motivos que levaram “o Norte” a dizer não à continuidade do atual panorama mas esperando igualmente continuar a contar com os mesmos para “melhorar ainda o sucesso que temos tido nesta área”. Com um discurso que apela à superação de eventuais discordâncias no seio do grupo de trabalho em favor de uma solução que melhore as condições dos profis- sionais desta área, Fernando Araújo deixa antever que, caso a unanimidade não seja to- talmente alcançada, fará prevalecer a visão de João Goulão: “Tenho a certeza de que a liderança do Dr. João Goulão possibilitará encontrar o fio condutor que nos permitirá, no seio do Governo, tomar uma decisão e preparar tudo isto para que, nos próximos anos, tenhamos uma estrutura forte, dinâmica e que responda às necessidades dos utentes”. Que reação lhe merece o recente pedido de demissão em bloco de todos os coordenadores dos CRI do Norte do país e do coordenador da DICAD da ARS Nor- te? Fernando Araújo (FA) – Diria que, acima de tudo, estamos neste momento a discutir o futuro do SICAD e encaro isso como uma posição dos profissionais, que acumulam al- gum cansaço face a problemas que têm enfrentado ao longo dos últimos anos. Mas quero deixar uma palavra de alguma tranquilidade. Estamos a tentar encontrar uma fórmula e uma solução para, não só melhorar as condições do SICAD, das DICAD e de todas as pessoas que trabalham nesta área, como também dar aqui uma nova visão para o futuro. Portanto, encaro realmente isso como uma posição tranquila de pessoas que também pretendem, naturalmente, mostrar algum do seu desagrado mas deixo também uma nota de que estamos a encarar o futuro de uma forma positiva e, seguramente, encontrarão motivação, no novo enquadramento, para continuarem o excelente trabalho que têm feito. Mas esse suposto novo enquadramento já está a demorar tempo demais e, en- tretanto, continua a não surgir, ao contrário do que esperam os profissionais, uma nova solução orgânica para esta área…
9 FA – As soluções complexas, como sucede neste caso, nem sempre são rápidas a encontrar… Mas vamos encontrar uma solução para os próximos anos e prefiro, even- tualmente, demorar mais alguns meses – e, neste momento, já estamos numa fase final – a encontrar uma boa solução, que fique para os próximos anos, do que tomarmos deci- sões muito rápidas que poderão ter uma viabilidade curta. Estou confiante que este grupo de trabalho, liderado pelo Dr. João Goulão, encontrará uma boa decisão, que o Governo irá apoiar, um enquadramento e uma dinamização que permitirá dar continuidade ao su- cesso que temos tido nesta política de luta contra as drogas e as dependências. O último grupo de trabalho produziu um relatório que se revelou inconclusivo quanto à desejada unanimidade em torno de uma proposta de solução para esta área… Em que medida poderemos estar perante um medir de forças por parte da saúde mental, que resultou num entrave face a essa unanimidade, evidente pelo menos entre os profissionais em CAD? FA – Não vejo dessa forma… É necessário clarificar alguns aspetos que a primeira proposta estabelecia, o que foi pedido ao grupo de trabalho e ao Dr. João Goulão e acho que, no aprofundar dessas questões, encontraremos boas soluções. Não vejo isso como um medir de forças. Acho que devemos estar todos unidos dentro do SNS a favor de uma política que teve enormes ganhos em saúde - e esta conferência Lisbon Addictions 2017 é um bom exemplo disso – e que queremos continuar a aprofundar e a melhorar no futuro. Perspetivo tudo isto como uma visão para o futuro, construtiva, eventualmente colocada com novos alicerces mas uma visão preparada para melhorar ainda mais o sucesso que temos tido nesta área. E os profissionais que temos no país são excelentes e é também muito a eles que o sucesso se deve. Em que medida veria com bom grado o regresso a um modelo de organização vertical, como sucedia com o IDT? FA – Vamos aguardar as decisões do grupo de trabalho… Não vale a pena estarmos a ultrapassá-las, senão esse grupo também não faria sentido… O grupo de trabalho é constituído por profissionais de várias áreas, o que resulta em diferentes visões, mas te- nho a certeza de que a liderança do Dr. João Goulão possibilitará encontrar o fio condutor que nos permitirá, no seio do Governo, tomar uma decisão e preparar tudo isto para que, nos próximos anos, tenhamos uma estrutura forte, dinâmica e que responda às necessi- dades dos utentes. Quando espera ter essas conclusões do grupo de trabalho? FA – Espero que, até ao final de novembro, tenhamos soluções. Gostava muito de to- mar uma decisão até ao final do ano e, se até ao final de novembro, pudermos ter uma proposta do grupo de trabalho, irei seguramente tentar, dentro do Governo, ter em dezem- bro uma solução e uma decisão para encarar já 2018 com uma nova visão para os profis- sionais e para os utentes. Como encara os mais recentes indicadores da situação portuguesa em matéria de CAD? FA – Diria que temos ainda uma excelente posição… Neste evento, estão representa- dos inúmeros países de todo o mundo e todos eles, como tenho tido a oportunidade de testemunhar em reuniões internacionais em que participo, olham para o caso português como um caso de sucesso. Com a lei da descriminalização, aprovada há cerca de 16 anos, tivemos uma mudança de paradigma; a própria montagem de toda a organização facilitou esse processo e temos números que são verdadeiramente impressionantes. Se forem ver a taxa de novas infeções por VIH em indivíduos toxicodependentes, encontra- rão em Portugal uma redução brutal, que não encontra paralelismo em nenhum outro país e que nos demonstra claramente que este é o caminho a seguir. Se forem ver, por exem- plo, as mortes por overdose, temos igualmente resultados muito bons. Temos tido visitas ao SICAD de vários países estrangeiros, que procuram saber como foi possível fazermos este caminho… Estamos realmente a exportar este modelo e, portanto, temos nesta área uma história de sucesso para contar.
10 João Goulão, SICAD – General-Director: “A importância de conectar ciência e política é um aspecto muito valioso” Permitam-me começar por enfatizar a honra e o prazer de acolher a segunda conferência sobre comportamentos aditivos e dependências e de vos dar as boas vindas, em nome do SI- CAD, a Lisboa. Como saberão, mais de 600 participantes de 58 países estiveram na Primeira Conferên- cia Europeia sobre comportamentos aditivos e dependências, em 2015. O resultado favorável da Conferência destacou a importância deste evento europeu, que abordou a necessidade das comunidades científicas das dependências relativamente a um fórum multidisciplinar, continuado e sustentável para intercâmbio, networking, colaboração e discussão de importan- tes resultados de investigações. No final da nossa primeira edição, partilhei com os participantes no evento que desejáva- mos realizar esta Conferência a cada dois anos. Com efeito, o entusiasmo que a Conferência gerou reforçou o nosso desejo de tornar a Lisbon Addictions um evento bienal e isso trouxe- -nos todos aqui hoje. A Lisbon Addictions 2017 demonstrará novamente a riqueza desta área e contribuirá para a disseminação de mais e melhor ciência, que possa informar e apoiar os profissionais e os decisores políticos nas suas escolhas diárias. Mais de 1200 participantes de mais de 71 países estão presentes nesta Conferência. Esta reunião proporcionará novamente uma oportunidade de networking única para investiga- dores, profissionais e especialistas em políticas em todos os países. Teremos acesso a 19 dis- cursos principais, mais de 100 sessões de papel e estruturadas, mais de 450 apresentações orais e cerca de 200 apresentações de pósteres, bem como sessões patrocinadas. Aproveito a oportunidade para agradecer aos membros do Comité Científico pelo seu va- lioso trabalho e contribuição para a alta qualidade do programa. Alguns dos especialistas de maior renome nas adições e nos campos relacionados com a droga - atuando como membros do comité científico da conferência - forneceram orientações sobre o conteúdo científico do evento, revendo mais de 600 resumos enviados. Como todos sabem, a conferência é organizada em torno de quatro temas gerais: a ciên- cia fala com a política e a política fala com a ciência; Compreender as adições; da evidência à ação; e Horizontes da Adição. Estou convencido de que os temas selecionados fornecerão o conhecimento científico mais recente nestes campos e explorarão os desafios relacionados as drogas ilícitas, álcool, tabaco, jogos a dinheiro, internet e outros comportamentos aditivos. A importância de conectar ciência e política é um aspecto muito valioso que acabou de ser destacado nas nossas sessões inaugurais. Outro dos quatro temas principais que abordaremos é a compreensão do estado da arte sobre a natureza, a escala e o impacto dos comportamentos aditivos, as suas correlações de saúde, comportamentais e sociais e como as adições podem ser teoricamente construídas. A Conferência também debaterá os resultados da investigação que informam o desenvol- vimento, a focalização e a implementação de políticas e intervenções eficazes em todos os campos das adições. Teremos a oportunidade de ouvir apresentações que ampliam as fron-
11 teiras do conhecimento das dependências, identificam novas ameaças e desafios e desta- cam novas oportunidades de ação. Como certamente constataram, o programa da Conferência inclui algumas sessões TWIST, um projeto financiado pela Comissão Europeia destinado a oferecer conhecimento chave sobre temas específicos e apoiar o envolvimento de profissionais em início de carreira na Conferência Lisbon Addictions. Senhoras e Senhores, com a intenção de promover regularmente a convocação deste importante evento sobre adições, a segunda edição desta Conferência Europeia reunirá in- vestigadores, profissionais e especialistas em políticas, possibilitando o intercâmbio dos últi- mos avanços nas diferentes disciplinas, promovendo a aplicação prática da pesquisa em de- pendências, com vista a enfrentar desafios atuais e novas ameaças. Senhoras e Senhores, gostaria de expressar os meus sinceros agradecimentos a todos os nossos oradores. Este evento não poderia ter sido possível sem o seu compromisso. Aproveito também esta oportunidade para agradecer à revista Addiction, ao Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência e à Sociedade Internacional de Editores de Revis- tas de Dependências que, juntamente com o SICAD, organizaram uma vez mais este grande evento multidisciplinar e transversal sobre adições. Permitam-me expressar, especialmente, a minha gratidão ao OEDT pelo seu compromis- so ativo nos Comités de Organização e de Programa. O conhecimento e o apoio científico do OEDT foram cruciais, como em 2015, para o programa da conferência e para a excelente co- laboração de que desfrutámos para implementar esse evento. A Conferência tem o apoio de vários parceiros internacionais de renome: a Organização Mundial da Saúde, o Gabinete das Nações Unidas contra as Drogas e o Crime, a Comissão Europeia, o Grupo Pompidou e a Comissão Interamericana de Controlo do Abuso de Drogas. Aproveito a oportunidade para agradecer especialmente aos representantes da Comissão aqui connosco, o Sr. Ryan e a Sra. Stiegel. Permitam-me expressar a nossa gratidão e sincero agradecimento ao Ministério da Saú- de, que tem estado comprometido com esta iniciativa desde o início, em particular o nosso Se- cretário de Estado, Dr. Fernando Araújo, que está aqui hoje connosco. Prezados participantes, Lisboa é um local excepcional para a Lisboa Addictions 2017. É conhecida como o principal destino da Europa, com o seu clima atraente e a sua história emo- cionante. As instalações de Lisboa atraem pessoas de todo o mundo, tornando-a o lugar certo para construir novas pontes entre ciência e política. Desejo-vos uma estadia muito agradável aqui em Lisboa e disponham de um tempo extra para desfrutarem da beleza única de Lisboa. Obrigado pela sua atenção.
12 Alexis Goosdeel, EMCDDA Director: “Na Europa, temos algo único no mundo há 20 anos: a abordagem equilibrada entre a redução da oferta e a redução da procura e o enfoque desde a perspetiva da saúde pública e Portugal é um país que dá claramente o exemplo a esse nível” Em última análise, um evento como a Lisbon Addictions serve para promover a saúde pública e a adoção de estilos de vida saudáveis… Pergunto-lhe se essa preo- cupação esteve presente aquando da conceção do programa. Alexis Goosdeel (AG) – Sim, é o que estamos a fazer. E, falando no caso do Obser- vatório, também é por isso que temos a nova Estratégia 2025… A nossa visão estratégica visa contribuir para uma Europa mais saudável e mais segura, através de decisões e ações melhor informadas. Nesse âmbito, elegemos duas componentes: uma de saúde pública e outra de segurança. A propósito da saúde pública, temos três prioridades até ao final de 2020: a primeira, é contribuir para facilitar o acesso dos consumidores de drogas ao testing e tratamento para a Hepatite C e HIV. Sobretudo no campo da Hepatite C, como apresentámos no nos- so relatório de julho do ano passado e no Relatório Europeu sobre Drogas de 2017, esta- mos perante um problema de diagnóstico muito tardio. Então, desde logo, devemos con- tribuir para facilitar e aumentar o acesso dos utilizadores ao teste e tratamento. Quanto ao tratamento, também nos deparamos com o problema do preço… A segunda prioridade é contribuir para a diminuição dos casos de morte relacionados com o consumo de drogas e, nesse âmbito, em particular mas não em exclusivo, organi- zaremos no próximo ano uma reunião técnica para produzir uma lista de critérios mínimos de boas práticas relativamente às salas de consumo protegido. Atualmente, temos 80 sa- las na Europa e, se tivermos em conta os novos projetos em preparação, no final do pró- ximo ano deveremos ter mais de 100. Com a vantagem de usufruirmos atualmente de uma cooperação científica com a Suíça, a partir da qual trataremos de incorporar os da- dos do sistema de avaliação das salas que têm em funcionamento. Aqui, a ideia não se trata propriamente de produzir já diretrizes europeias, porque ainda se trata de um serviço em desenvolvimento, que ainda não recolhe unanimidade. Visando ainda atingir esse ob- jetivo da diminuição dos casos de morte, procuraremos oferecer mais informação e difun- dir melhor o uso de naloxona/naltrexona. A terceira prioridade, talvez mais difícil de alcançar, é facilitar a transferência do conheci- mento das boas práticas no campo da prevenção, da teoria e do nosso website, para a prática nos estados-membros. Considero mais difícil de perseguir este objetivo porque, embora exis- tam hoje mais dados e conhecimentos sobre metodologias de prevenção que estão a produzir resultados ou que, pelo menos, não estão a ter influência negativa mas esta informação, que fica disponível a nível europeu, não é sempre utilizada na maioria dos países. Para ilustrar, atualmente, apenas um país da União Europeia tem um sistema de certificação obrigatório
13 para todos os programas de prevenção. Portanto, vamos tratar de desenvolver cooperações com outros organismos. Também desenhámos um modelo de capacitação e formação, pen- sado na perspetiva de que não temos que ser nós a fazê-lo mas sim em disseminar determi- nados módulos e em apoiar os países. Em suma, são estas as três prioridades, o que não sig- nifica que fiquemos por aqui em termos de trabalho. O Alexis trabalha nesta área há vários anos, já viajou por todo o mundo, partici- pou em congressos em todos os continentes… Será legítimo afirmar-se que a Lis- bon Addictions é hoje a grande conferência mundial nesta área? AG – Sim! Mas Eu diria que ainda não é uma conferência mundial mas tornar-se-á a conferência mais importante sobre este tema no mundo. Creio que o valor acrescentado desta conferência reside no seu carácter multidisciplinar, no facto de ser uma conferência europeia inserida numa perspetiva mundial ou internacional e, obviamente, de ter espe- cialistas de mais de 70 países. É uma riqueza incrível, sobretudo porque, como comentei na sessão de abertura, estamos perante realidades distintas entre várias zonas geográfi- cas e, por outro lado, a Europa, sem ter essa ambição desde o início, tornou-se a primeira e única região do mundo a implementar um sistema de monitorização harmonizado, que funciona e que existe e que entrega, a cada ano, a tempo e horas relatórios, dados, infor- mação e análises. Por outro lado, também temos algo único no mundo, que é a aborda- gem equilibrada entre a redução da oferta e a redução da procura e o enfoque desde a perspetiva da saúde pública. Na Europa, temos o privilégio de o fazer há já 20 anos e Portugal é um país que dá claramente o exemplo a esse nível. Que balanço faz desta conferência? AG – Duplicámos o número de participantes, triplicámos a oferta de apresentações, cujo nível, sobretudo dos key notes mas também em geral, é muito elevado. Tivemos aqui um elemento novo, cuja continuidade apoiaremos na próxima edição, que foi o projeto de formação e capacitação de jovens profissionais, algo que raramente acontece e que po- derá contribuir decisivamente para um objetivo que ontem frisei: “Make addictions great again”… Constatamos que, em muitos países, trabalhar nesta área é duro e não é muito gratificante… …É o que está a acontecer em Portugal, como reclamam muitos profissionais… AG – Portugal é um país que tem investido muito e, em comparação com outros paí- ses, o contexto português é estimulante para trabalhar nas adições. Mas não estão a surgir pessoas novas e muitas têm saído… AG – Sim, mas esse é um problema geral dos países, o envelhecimento dos quadros e dos responsáveis. Obviamente, existe muita gente com experiência e que desenvolve o seu trabalho, que não é ocupado por outros até que se reforme… Mas o que queria dizer é que existem muitos países onde esta não parece, para um jovem profissional, uma área de trabalho muito estimulante. Também sabemos que estamos perante pacientes difíceis e, se houver a impressão de que não há dinheiro para esta área nem apoio do Estado, nem a possibilidade de se ter um trabalho estável ou perspetivas de carreira, claro que não será muito estimulante para, aos 25 anos de idade, alguém decidir começar a traba- lhar nesta área. E acho que esta conferência, já na primeira edição mas sobretudo neste ano, com este componente Twist, de capacitação de jovens profissionais, mostra o cami- nho. Entre outras missões, o Observatório revela e analisa tendências de consumos… Será legítimo afirmar-se que a heroína está “adormecida”? AG – Adormecida não… Está estabilizada mas há que manter o alerta e atenção, até porque ainda é a droga que causa mais danos de saúde pública. Há uma pequena dimi- nuição do uso de heroína mas A situação dos EUA, por exemplo, apesar de muito diferen- te, mostra que ninguém pode sentir-se ao abrigo de uma nova epidemia. E há que registar o aumento das mortes por overdose observadas ao longo dos últimos três anos, na maio- ria dos casos por uso de heroína, muitas vezes combinada com o uso de benzodiazepi- nas ou fentanis, perigo que está a emergir e que merece a nossa atenção e monitoriza- ção.
The opioid dependence in the elderly – the new old age Authors: Carlos Vasconcelos MD, senior consultant of Psychiatry1; João Mocho MD, senior consultant of Family Medicine2 ; Rosário Abrunhosa MD, consultant of Anesthesiology and responsible of Pain Clinic 3 1Addiction Center of Gondomar; 2 Addiction Center of Vila Real; 3 Hospital Center of Trás-os-Montes and Alto Douro Vila Real In Europe and particularly Portugal, the shape of age pyramid has been changing. What we see is a marked transition towards a much older population We know that we had a marked increase of prescribed opiates in the last 5 structure. This has implications in our addiction centers. years (70% increment). Statistics about prescribed opiates for chronic pain (whether cancer or non-cancer chronic pain) are missing. The first patients addicted with prescribed opiates are appearing in the Portuguese addiction centers, asking for treatment. However, Portuguese patients with chronic pain and particularly older patients are in large numbers undermedicated. We have to do more and better. Portuguese health authorities consider pain as the fifth vital sign. Most of the pain clinics have a waiting list of several months. It is necessary to work on the referral network of these consultations with primary care, because in most cases it does not work well. Addiction centers will be called to treat any addiction cases that may occur and must be prepared to attend a much older population. Can all doctors prescribe opioids for pain management? Medical training is A quick survey in the northern region of Portugal addiction centers reveals that essential in order to reduce the risk of banalizing opioid prescription. we have in our opioid maintenance programs about 15 patients with more than It´s time to speak about a quaternary prevention approach with these new 65 years and 131 patients older than 60 years. These are heroin addicts. old patients. We have a general chronic pain prevalence of 36,7% but in the population older than 60 years this prevalence is higher than 56%. Pain can affect about 83% of the elderly who are institutionalized in nursing homes. Chronic pain is treated with opiates like tramadol, morphine, buprenorphine, Conclusions fentanyl, methadone, oxycodone, tapentadol, hydromorphone. All these opioids have the potential to create dependence and sometimes addiction. ➢ Pain is the fifth vital sign. Should we follow a restritive perspective of using strong opioids? Or rather use ➢ The teaching of pain (namely treatment/management) must be them with better clinical monitoring and preventing addiction situations? developed at all levels. ➢ The pain referral network should work in practice. The US situation ➢ Addiction centers should be part of the referral network. ➢ Multidisciplinary pain consultation, at local Primary Health Care In some countries like US, there is a true hidden epidemic of opioid dependence level must be created. with prescribed opiates, aggravated by the fact of not being recognized by the ➢ Implement programs of quaternary prevention for these specialized services of addiction treatment. The older and more disadvantaged patients. population with chronic pain who do not benefit from a national health system or social security system, is forced to buy street heroin (cheaper than the ➢ Medical training is essential to prevent addiction with strong prescribed opioids). From 1999 to 2015, more than 183,000 people have died in opiates. the U.S. from overdoses related to prescription opioids. ➢ If we implement these measures the replication of the American situation in Portugal will be highly unlikely Conflict of Interests The authors declare that there is no conflict of interests regarding the publication of this paper. 1. Circular Normativa n.º 09/DGCG de 14/06/2003 - A Dor como 5.º sinal vital: Registo Sistemático da Intensidade da Dor [internet]. Direção Geral da Saúde . Disponível em http://www.dgs.pt/. 2. Orientação nº 15/2010 de 14/12/2010 - Orientações técnicas sobre o controlo da dor crónica na pessoa idosa. Direção Geral da Saúde . Disponível em http://www.dgs.pt/. 3. Plano Nacional de Luta Contra a Dor. Direção Geral da Saúde, Lisboa 2001. 4. Luis Filipe Azevedo et al. “Epidemiology of chronic pain: a population based nationwide study on its prevalence, characteristics and associated disability in Portugal”. The Journal of Pain, vol 13, n.º 8 (August) 2012: pp 773-783. 5. National Center for Health Statistics. CDC Wonder
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